Revista HQ – A história da mãe da Erika
A formação sobre o enfrentamento aos ciclos de violência contra mulheres, ganhou uma versão presencial e de multiplicação. Usamos o recurso que foi publicado no início deste 3º ano. E no segundo semestre acompanhamos os/as educadores/as (jovens e adultos) na aplicação dos materiais. A revista da História em Quadrinhos ganhou todo o Brasil.
Este recurso didático HQ – História em quadrinhos trata das questões de violências e violações dos direitos das mulheres. Foi utilizado de setembro de 2022 a fevereiro de 2023.
A revista foi publicada em maio de 2022 e foi distribuída no Encontro Nacional da Campanha Nacional de enfrentamento aos ciclos de violência contra as mulheres, (que é uma Campanha da Pastoral da Juventude do Brasil), este encontro aconteceu em agosto de 2022, na cidade de Campinas-SP e contou com a partcipação de mais de 100 jovens de todos os Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB. Foi distribuído tanto para os grupos de jovens da PJ espalhados por todo o país, quanto para as Escolas da Rede Pública de Goiânia-GO e seu entorno e o Centro de Assistência Social da Rede Pública de Goiânia.
A distribuição das Revistas foram feitas através desse encontro nacional da Pastoral da Juventude, das relações institucionais entre o CAJUEIRO e outras organizações da cidade de Goiânia e também através de pessoas da Rede Caminho de Esperança.
O material chegou a 23 estados e o Distrito Federal: Goiás (Cajueiro e secretaria de Educação) Acre (pela PJ), Amazonas (pela PJ e a Congregação de Nossa Senhora-Cônegas de Santo Agostinho), Roraima (PJ), Pará (PJ), Tocantins (PJ), Minas Gerais (pelo Instituto de Pastoral da Juventude-Leste II e PJ) Distrito Federal ( pela Congregação Missionárias de Jesus Crucificado e Cajueiro), Mato Grosso (PJ), Espírito Santo (PJ, IPJ Leste II), Paraná (PJ e Centro Juvenil Vocacional), Santa Catarina (PJ e Instituto Catarinense de Juventude), Rio Grande do Sul (PJ), Maranhão (PJ e Instituto de Formação Juvenil do Maranhão), Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba (PJ), São Paulo (Centro de Estudos Bíblicos e PJ), Rio de Janeiro (PJ, Maristas), Rondônia (PJ), Piauí (PJ), Goiás (Cajueiro, Congregação de Nossa Senhora).
Não tivemos envios para os seguintes estados: Mato Grosso do Sul, Sergipe, Amapá, Bahia e Ceará. Somos 27 estados e o Distrito Federal. Foram 5 Estados que não enviaram relatórios.
Solicitamos relatórios dos grupos que assumiram o compromisso de parceria na aplicação das Histórias em Quadrinhos – Através dos relatórios enviados por estes grupos, temos o dado de que foram envolvidas 1.893 pessoas – adolescentes e jovens dos grupos , escolas e universidades públicas e de setores populares – mulheres, negras, população LGBTQIAP+ brancas, também destacaram lideranças comunitárias.
Sobre a metodologia de trabalho – quase todos os grupos se preparam, deram tempo para a leitura da história, ou realizaram várias atividades como caça-palavras etc. Alguns deles nos enviaram as histórias contadas de suas vidas- A vontade de compartilhar essas experiências veio após a aplicação do material:
“As falas foram sobre dor e opressão e também sobre poder tratar desse sofrimento, por meio da conversa, diálogo, escuta. E destacou-se a necessidade de levar para outros espaços esses temas, que quando não tratados geram doenças e também o apagamento da pessoa. E trazer o tema para o ambiente escolar é fundamental”.
Recebemos vários depoimentos como esta citação acima ou como essas a seguir:
“Obrigada, professora por nos proporcionar uma leitura tão pertinente para o momento” (aluna de escola pública -8° ano.)
“Esse debate fez com que eu resolvesse contar para a minha família sobre um professor pedófilo” .
“Minha amiga me contou que o padrasto dela estava abusando dela, eu a ajudei a contar para a mãe dela”. (Goiás)
Cremos que estes relatos, dentre vários outros, revelam que o tema é urgente e necessário para trabalhar com adolescentes e jovens. Este material ajuda a reconhecer as feridas que relacionamentos abusivos deixam nas vidas das mulheres, e o trabalho desse tema em coletivos/grupos, pode se tornar uma possibilidade de enfrentar a dor e tratar dessas marcas que os abusos e as violências deixam nos corpos das vítimas.
Seguem mais alguns relatos que recebemos das partilhas de vida durante as aplicações do material:
-Estudante 4 (Homem cis racializado): “Queria por brinco, mas meu pai disse que era coisa de viado”.
-Estudante 5 (Homem cis racializado): “Ainda falam sobre a cor da roupa, ou se a gente cruza as pernas”.
-Estudante 5 (mulher cis branca): esta estudante quase não se pronunciou durante a aplicação do material, mas quando foi perguntado sobre estratégias de acabar com o machismo automaticamente disse “Fogo”, após falar pediu desculpa, todes sorriram.
-Educadora (Mulher cis preta, pansexual,TDAH): “Cresci em um ambiente de violência doméstica constante, tenho vários distúrbios psicológicos por causa disso”, “Uma vez meu pai me arrastou por três lances de escada porque eu não o ouvi quando ele me chamou, minha professora me perguntou sobre os machucados e eu disse que caí de bicicleta (eu tinha 6 anos)”, “Meu primeiro namorado me forçou a fazer sexo quando eu tinha 15 anos”, “Um outro namorado me tratava mal quando eu usava certos tipos de roupas”, “Fui forçada a fazer sexo enquanto dormia”.
Depois desse momento de partilhas, fizeram uma discussão sobre os conceitos do caça-palavras da HQ, pensando em formas de romper com esses ciclos de violência.
Algumas alunas escreveram suas histórias e enviaram através do formulário do google.
Até agora recebemos 5 histórias, todas sobre violência, maioria de violações. Não podemos divulgar aqui porque não falamos e pedimos a autorização das pessoas.
Os relatórios trouxeram também detalhes sobre o trabalho, destacamos aqui estes:
“A atividade tratou-se de um encaminhamento do material para as lideranças da Coordenação Regional da PJ do Rio Grande do Sul. Para fazer com que o material seja trabalhado com criticidade. A atividade teve os seguintes objetivos: – Narrar a história através do resumo, fazendo com que cada um(a) identifique as relações de violência; – Estimular o trabalho em grupo e afirmar que o material precisa ser trabalhado a partir da história narrada, para que a criticidade apareça a partir da leitura dos(as) jovens, num exercício libertador e crítico; – Entender que os tipos de violência contra a mulher estão presentes no nosso cotidiano e que é nosso dever enquanto lideranças da PJ saber identificá-los. Como metodologia do encontro, cada participante ganhou uma cópia com o resumo descritivo da história de Érika, além de ideias de como aplicar a HQ e um anexo contendo os tipos de violência contra a mulher segundo a lei Maria da Penha (Nº 11.340, de 7 de agosto de 2006)”. (Rio Grande do Sul)
Muitos foram os espaços onde este material provocou reflexões acerca da importância de saber reconhecer os sinais de relacionamentos abusivos e conversar sobre esses temas. Queremos destacar ainda alguns relatos:
Adolescente de 12 anos: O material está tão bonito. Comecei a ler e não sabia como ia ser, fiquei curiosa para ir até o fim e descobrir o que aconteceu com a Mãe da Erika. Não sabia que existiam tantos tipos de violência. Aprendi o significado de muitas palavras, como machismo, misoginia, etc.
Professor da Rede Pública: Apliquei o material com meus alunos e alunas do ensino fundamental, é interessante perceber que muitos deles só precisam de um espaço onde se sintam confortáveis e seguros para falarem de suas experiências, e às vezes esse espaço é a escola, não a família. Fiquei preocupado com a forma emotiva como uma aluna se demonstrou durante as conversas. Vou prestar atenção nela.
Liderança de Grupo de Jovens: Poder trabalhar este material com o grupo de jovens foi significativo, porque ele mostra pra gente a importância de ter com quem contar, de ter pessoas que a gente confie para falar das nossas dores. Após a aplicação do material, conversamos sobre o quanto queremos que nosso grupo de jovens seja esse lugar de confiança uns para os outros.
Liderança da Pastoral da Juventude em nível estadual: Eu agradeço muito ao Cajueiro pela elaboração deste material que trata de um tema tão importante. Distribuímos ele para várias cidades de nosso estado e muitas lideranças de grupos de jovens estão dando retorno que os jovens estão gostando da forma como estamos trabalhando a temática a partir do material, trazendo uma história, aprendendo sobre como reagir em casos de violência e ainda tem o caça palavras, que usamos como dinâmica no final.
Liderança da Pastoral da Juventude (Jovem mulher): Até algum tempo atrás, ainda era muito difícil falar de machismo, patriarcado, violência de gênero dentro de grupos católicos. Muitas mulheres católicas sofreram muito para que hoje a gente pudesse tratar desses temas dentro dos salões paroquiais. Hoje, temos uma Campanha Nacional na PJ que fala sobre a vida das mulheres e o Cajueiro, eu vejo que é um grande parceiro dessa campanha. Esse material da HQ é bom, porque dá pra trabalhar com os mais adolescentes do grupo, mas também com os jovens mais maduros. Aos poucos vamos avançando em mexer nas estruturas.
Esta formação chegou a vários lugares, alguns deles que ainda não temos notícias, pois o Brasil tem uma realidade territorial muito extensa, e para muitos grupos de jovens, de cidades pequenas do interior, a comunicação através de redes sociais, e-mails e etc, ainda é um grande desafio. À medida que vamos encontrando as pessoas, vamos sempre tendo retornos de como tem sido a experiência de trabalho, aos poucos vamos recebendo relatórios.
Mas temos a certeza de que estamos desencadeando um movimento de escuta de adolescentes e jovens sobre a questão dos abusos, violências e violações, que nosso povo tem sofrido, de modo especial, as meninas e mulheres.
Este é o segundo relatório do ano de 2023. Uma ação que alcançou vários lugares e grupos que trabalham com jovens.
Carmem Lucia Teixeira – Michelle Gonçalves