Uma memória amorosa da vida doada de Hilário Dick

Partiu! Celebrou a Páscoa. Fez sua comunhão com todo o Universo! E aí deste lugar vem nos dizer que “o divino está presente na juventude”, pois ela traz a novidade e revela o amor de Deus que é amor.

Hilário Dick viveu mais de 80 anos, alcançou a sabedoria daqueles que se consomem por uma causa. Foi rebelde e optou com clareza pela juventude para que ela pudesse ser sujeito e dizer sua palavra. Optou pela juventude empobrecida e se dedicou a ela. Sofreu muitas perseguições por suas opções em todos os ambientes por onde passou. Viveu a rebeldia, ensinou que o Evangelho é fazer subversão. Tinha tantas pessoas que lhe eram caras. Lembro de muitas pessoas a quem ele se dedicava com cuidado e amizade. Amou! Pessoas, a juventude, a organização da Pastoral da Juventude em nível latino americano.

Existem tantas histórias para serem compartilhadas! Difícil separar e indicar aquelas que mais dizem do Hilário. Poderia dizer que diante da juventude no Encontro Nacional da PJ em Maringá, quando os jovens fazem um grande roda para abraçá-lo, ele chora, se emociona e um choro com muitas alegrias por todos os serviços que prestou e, também, por tantas incompreensões que viveu na hierarquia da Igreja que sempre teve medo dele. Talvez porque muitos destes desejariam ser ouvidos pela juventude, e não sabiam que o segredo não é a inveja ou o medo, mas a proximidade, a amizade, a escuta, o respeito e isso tudo são conquistas do dia a dia junto à juventude.

Certa vez, recebeu uma carta dos bispos de um Regional da CNBB que o proibia de realizar qualquer atividade nas dioceses ou no regional. Li a carta com ele. Chorou muito naquela ocasião, porque amava a juventude, mas também amou a Igreja com uma intensidade que impressionava. Foi confortadora a visita do seu provincial a ele para apoiar sem cobrar. Ele que foi jesuíta apaixonado na Companhia ficou confortado. Esse X Encontro Nacional da Pastoral da Juventude em Maringá/PR estava no meio destas perseguições e, por isso, o gesto da juventude foi um afago.

Duas atividades que foram intensas – a elaboração dos roteiros da Coleção na Trilha do Grupo de Jovens – Hilário e eu fomos os organizadores de cada um dos roteiros. Revimos, produzimos textos que faltavam, escrevemos sobre a mística de cada lugar. Foram três anos de muito trabalho. Hilário veio a Goiânia/GO na Casa da Juventude, era uma de suas atividades designadas pelo provincial. Foram muitos debates, discordâncias e concordâncias.

Outra produção que exigiu tempo foi a revisão do Marco de Referência da Pastoral da Juventude Latino Americana – Civilização do Amor – Projeto e Missão. Este gastamos uns cinco anos de produção de textos, revisão, reuniões, participação em encontros. No final ficamos mais de uma semana trabalhando a versão final. Quantos aprendizados!

Trabalhar na assessoria do Setor Juventude da CNBB foi um desafio tremendo. Tive a graça do seu acompanhamento amoroso e efetivo para partilhar os sentimentos e os serviços.  A tarefa de acompanhar as Pastorais da Juventude, os movimentos e congregações, a estrutura da CNBB com suas demandas e projetos. Hilário que havia passado pelo espaço logo no começo do Setor, permanecendo somente um ano, foi dispensado. Agradeço porque colaborou para que eu pudesse passar por este serviço à Igreja do Brasil me ensinou a ser presença significativa neste espaço e a conquistar o respeito pela competência.

Neste primeiro momento de memórias, recordo quando solicitou uma apresentação para o livro de História das Pastorais da Juventude no Brasil. Fiz uma brincadeira com ele, dois textos: um provocando ele sobre as cores que utilizamos quando contamos as histórias e outro, sério, porque afinal estava eu na assessoria na CNBB.  E ele fez uma coisa mais linda: juntou os dois textos e produziu um texto lindo. Gratidão! Tem muitas outras memórias que permanecem vivas em nós.

#HilárioVive

Goiânia-GO 04/03/20, dia que Hilário ficou semente e foi plantado na terra.

Carmem Lucia Teixeira , Presidente do Cajueiro