Encerramento do Café com Direitos Humanos em 2025: Como os racismos atravessam nossas vidas?

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“Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida de qualquer pessoa”

Belchior

No dia 12 de dezembro de 2025, uma rede de grupos e instituições — Centro de Juventude Cajueiro, Instituto Brasil Central (IBRACE), IFG/Câmpus Goiânia Oeste, Terreiro Flor do Abacateiro, Igreja Batista do Novo Mundo, Mulheres Malungas, Grupo de Direitos Humanos da PUC-GO, Grupo de Direitos Humanos da UEG, Núcleo de Direitos Humanos da UFG e UNIFIMES/Inhumas — se reuniu para o Café com Direitos Humanos. No dia do debate, contamos ainda com a presença da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, da Coletiva Pretas de Angola, do Grupo Fé e Política e do Mandato Popular de Fabrício Rosa.

Estiveram presentes 45 pessoas dessas entidades; vale destacar a participação de professores e estudantes do IFG – Goiânia Oeste. Arilene Martins acolheu o grupo com a música Como Nossos Pais, de Belchior, e convidou todas as pessoas a se apresentarem. Ela também trouxe à memória a Marcha Nacional das Mulheres Negras, realizada em 25 de novembro, em Brasília — um marco na luta por reparação e pelo Bem Viver. Contribuíram para provocar o debate a partir de suas trajetórias: Mariana Sousa (UEG), Sofia, Geovana e Raiany (jovens do Projeto TrilhaUni/Cajueiro) e Valdicélia Nascimento (Mulheres Malungas).

Mariana, da UEG, trouxe a reflexão sobre os afetos do povo negro, especialmente das mulheres negras, e sobre como os racismos atravessam suas vidas desde a infância — dores relacionadas ao cabelo, aos afetos, à solidão e ao acesso ao trabalho marcado por práticas de desconfiança. Mencionou também dados sobre a quantidade de mulheres negras que são mães solo.

As jovens Sofia e Geovana (TrilhaUni Cajueiro) aprofundaram o tema dos atravessamentos raciais a partir das experiências afetivas: o cultivo das amizades, o sentimento de pertencimento (ou a ausência dele), a sensação de não ser vista ou desejada. Relataram como essas vivências marcam a adolescência e a juventude de mulheres negras, junto ao medo de entrar em determinados espaços, como lojas e shoppings.

Raiany(TrilhaUni Cajueiro) compartilhou sua experiência com a violência racial: filha de pais nordestinos, moradora de bairro periférico, contou que, no 6º ano, sofreu uma série de apelidos relacionados à boca, ao nariz e ao cabelo, o que a levou a se esconder para evitar confrontos. Hoje, integra o Quilombo Vó Rita, que tem sido um espaço de empoderamento, reconhecimento de si e construção de amizades como ferramentas para superar o lugar de vítima destinado ao povo negro, rumo a uma posição de participação e compromisso com a mudança dessa realidade. Ela mencionou ainda como as leituras de mulheres negras — entre elas, bell hooks — têm sido espaço de cura.

Por fim, Valdicélia, das Mulheres Malungas, falou sobre o movimento negro, os movimentos sociais, o espaço do Terreiro e as mulheres de umbanda, territórios onde a ancestralidade se faz presente. Compartilhou sua trajetória de formação também na Igreja Católica, em uma experiência de respeito às diversas expressões religiosas, e destacou a importância de aprender a cuidar dos amigos. Recordou ainda a perseguição à cultura negra e aos terreiros, historicamente alvo da violência policial. Encerrando sua fala, retomou a força da Marcha das Mulheres Negras por reparação e Bem Viver.

Após as falas, todas as pessoas presentes passaram a dialogar sobre “reparar o quê?”. Surgiram apontamentos como: fortalecer a memória; conhecer a história do povo negro e dos povos indígenas; estar atento ao racismo estrutural e institucional; buscar mais informações; consumir e produzir conteúdos; acessar recursos; educar as crianças para a igualdade; observar a situação das pessoas privadas de liberdade; enfrentar a hipocrisia social; e reconhecer as diferenças que nos marcam como riqueza.

Saímos todas e todos mais enriquecidos com a partilha de vida e com o desejo de construir uma sociedade comprometida com a justiça e o Bem Viver, enfrentando todas as formas de discriminação e caminhando para superar todos os racismos.

Carmem Lucia Teixeira

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