Sobre a assessoria “Um olhar para a Juventude” Registros e Reflexões

imagem da assessoria rede jubileusul

Já faz um tempo que temos conversado com a Alessandra Miranda e, também, com Joseanair sobre a Rede Jubileu Sul e na última semana falamos sobre a Rede Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais. O projeto acontece em vários territórios das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e, ainda, na coordenação de Taguatinga/DF, e no estado de Santa Catarina.

Fizemos uma reunião em preparação a este evento “Um olhar para a Juventude”. Nesta reunião, foi pedido para que as coordenações locais pudessem trazer questões ou descrever um pouco a realidade onde atuam. O grupo tem como objetivo trabalhar com mulheres, porém o tema da juventude chegou como um grito.

Nesse encontro, escutamos as preocupações vindas de Salvador, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Vale lembrar que estamos falando de territórios bem concretos: ocupações e comunidades periféricas dessas cidades.

Nesses territórios, reconhece-se que há muito poucas oportunidades para as juventudes no tocante ao trabalho, à educação, ao lazer. Também registrou-se a questão de poucos trabalhos comunitários e, nesse sentido, trouxeram na fala a questão da organização criminosa que atua nesses espaços e que acaba cooptando adolescentes e jovens para o tráfico.

Esses espaços sofrem de discriminação por causa do endereço, ou seja, os jovens, quando buscam trabalho, são dispensados devido ao lugar onde moram. Assim, vivem sem expectativas pela ausência de emprego, educação precária, na maioria das vezes, sem professores, sem espaço para lazer ou mesmo a possibilidade de ir e vir, porque são parados pela polícia para serem revistados como suspeitos, seja pela roupa ou pelo cabelo ou, simplesmente, pela cor da pele.

A desigualdade social é a marca dessa população, com maioria mulheres, muitas delas mães solos e adolescentes. Tal desigualdade provoca uma situação de ausência de direitos e de políticas públicas, as quais são garantidas pela constituição, mas, mesmo assim, essas populações vivem um dia a dia  de insegurança.

Foram escutados e gravados depoimentos de quatro jovens – dois de Belo Horizonte, um do Rio de Janeiro e outro de Salvador. Quando perguntados sobre como é ser jovem nesses espaços, falaram da violência, da dificuldade de transitar pela cidade e pelo bairro, que ficam presos em casa, sem lazer, e relembraram as abordagens da polícia. Entretanto, reconhecem o trabalho comunitário, que apresenta outras oportunidades, como a capoeira e outras atividades. Também falaram das atividades que realizam na escola, alguns disseram que gostam de morar no local mesmo que seja um lugar precário.

Esse contexto descrito foi o pano de fundo para a conversa sobre juventude em uma sociedade de grande desigualdade e concentração de rendas. A população adolescente e jovem acaba se tornando uma vítima porque se torna alvo fácil das organizações criminais nesses ambientes, onde o tráfico capta pessoas para a continuidade do crime organizado.

Um olhar para as juventudes que não seja marcado pelo modo como as instituições e o mundo adulto em si olha para esses sujeitos foi a primeira parte de nossa conversa. Sempre nos apresentamos como quem “ajuda” ou apresentamos nossas ações, as quais estão no sentido de “tirar as juventudes das ruas”. Desse modo, pensamos em respostas de salvação/apoio a partir do lugar do mundo adulto, ou seja, do pensamento adultocêntrico. O cuidado principal será este: encontrar, juntamente com os jovens, que ações estas pessoas jovens estão fazendo, como elas estão se organizando e apoiar as iniciativas. Assim, entendemos que podemos dar um passo.

Falamos, também, da escuta desses sujeitos jovens desde o seu contexto, situando em seus espaços, nas suas dores, nas suas alegrias, conquistas e desejos de viver e de experimentar a vida como adolescentes e jovens. Ter a sensibilidade de que a escuta sensível exige atenção para ver se o discurso desses sujeitos está no sentido de agradar as pessoas adultas e as instituições da sociedade ou se dizem de si mesmos/as.

Há tantas ausências nesses contextos periféricos para as juventudes: de políticas públicas; ou de políticas públicas que chegam e o Estado mata através de seus agentes de segurança; da ausência de uma educação de qualidade; de nenhum aparelho de lazer ou cultura e, ainda, ausência de saúde e de tantas outras políticas que não existem como estrutura mínima onde vivem/moram.

Quando falamos do emprego/desemprego, vemos a precarização do trabalho formal, a onda do empreendedorismo, que é o sujeito vendendo a si mesmo, como o movimento da uberização, e o sujeito – mais uma vez – responsável pelo fracasso do capitalismo periférico nessas regiões, como a América Latina.

Falamos a partir das situações trazidas pelas educadoras sociais sobre os diversos desafios e cuidados para com a vida das juventudes. Nesse sentido, compartilhamos a HQ, história em quadrinhos – A história da mãe da Erika – e também, a roda de conversa – A juventude quer viver.

A conversa gerou esperança neste grupo de mulheres que fazem Redes com as Mulheres desses territórios e, agora, teremos esta nova tarefa de cuidar das juventudes.

Síntese organizada pela Carmem Lucia Teixeira – CAJUEIRO

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