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O Projeto Girar o Mundo em favor da vida e os seus projetos nos Estados.

rodas -girar o mundo

 

 

No ano de 2021 tomamos uma decisão de realizar rodas de conversas em diversos estados do país com o desejo de dialogar com jovens, mulheres, pessoas das periferias, grupos da pastoral da juventude, negras e negros, com o intuito de ouvir suas dores.

Uma pensadora, escritora negra, estadunidense, adepta de Paulo Freire, chamada bell hooks, nos indicou um caminho para podermos nos livrar dessa dor que carregamos ao longo da nossa história de pessoas empobrecidas, vítimas do patriarcado e dos racismos, publicizando nossas dores, para que estas sejam iluminadas e assim, construirmos um caminho de amor.

Nosso projeto Tecendo Redes de Proteção à Vida deseja ouvir essas dores, sejam elas de abusos sexuais em todos os ambientes, de racismos, seja provocada pelo patriarcado ou pelo patrimonialismo, e todas estas doenças que estruturam a sociedade e que impedem muitas pessoas de viverem em liberdade, e assim poder contribuir para a construção de um mundo mais justo.

Também, a mesma autora, bell hooks, diz que precisamos estar atentos/as aos pontos cegos, que todas as pessoas estão sujeitas ao longo de sua história. Quando estamos no mundo existem nossas dores e as dores de outras pessoas, e, na luta, todas elas precisam ser reconhecidas para serem superadas.

Estamos construindo uma Rede Caminho de Esperança desde 2014, então nestes 7 anos, há muito esforço, envolvimento de grupos e pessoas que se juntam nesta direção de construção de uma formação integral e de ações em favor de colaborar com a superação desses ciclos de violência que nos envolvem e nos tocam por dentro, como jovens e adultos. Esse esforço de não se isolar, de construir redes para atender a situação de todos os grupos e, ainda, propor ações que toquem nas estruturas desta sociedade.

Este caminho que estamos fazendo desde 2020 inclui a Campanha da Pastoral da Juventude do Brasil de enfrentamento aos ciclos de violências contra mulheres, por isso, convidamos 1 jovem de cada estado para se juntar nesta grande tarefa, também outros grupos da Rede além da PJ. Foram 27 pessoas com três tarefas: capacitar-se com um curso de metodologia de rodas de conversas, elaborar um projeto de intervenção na realidade local, organizar a sistematização das rodas realizadas (relato, fotos, filmes, etc).

Cada pessoa ou equipe recebeu o curso, o material de 3 rodas de conversas, marca páginas e, ainda, o material do lambe-lambe para ser afixado em algum espaço público tratando do tema das violências contra mulheres. Este material foi enviado para todos os Estados do Brasil. E ainda, foi oferecido ao jovem indicado uma bolsa no valor de R$500,00 para colaborar com esta tarefa. A escolha dos/as jovens foi da Pastoral da Juventude, também com o intuito de apoiar pessoas que, neste tempo de pandemia, perderam o emprego ou estão subempregadas.

Enfrentamos vários problemas com a pandemia da Covid19 e no início de janeiro de 2022, também o vírus da influenza e nova cepa da Convid. Sem contar problemas com a internet, computadores, trabalho, escola, que fazem parte do cotidiano dessa gente que se uniu ao projeto. Alguns lugares tiveram dificuldade para a chegada do material, demora de mais de mês, outros necessitaram de reenvio. Tudo isso envolve administrar muitas dificuldades.

Além do grupo que recebeu a bolsa, outras pessoas da Rede Caminho de Esperança também se envolveram na elaboração dos projetos, participantes do curso de Metodologia de Rodas de Conversas, também pessoas das escolas públicas de vários estados nos enviaram seus projetos e a sistematização das rodas, com os devidos registros.

Alguns projetos foram focados em grupos de mulheres, outros nos grupos de jovens da Pastoral da Juventude, outros em escolas, ou ainda, com público variado da comunidade periférica, também na construção de políticas públicas para mulheres e jovens.

Os projetos de intervenção  que chegaram até fevereiro/22 são de 19 lugares diferentes e de vários Estados do Brasil. O projeto apresentado pelo Davison de Sergipe, será realizado em Aracajú com 3 rodas inicialmente, com juventudes e um encerramento na praça pública, em março de 2022.  Irá trabalhar os temas da violência e religião, das Políticas públicas de Juventudes e sobre a temática da violência contra mulheres, concluindo com uma atividade cultural.

Em Santa Catarina o Fabrício, propõe enfrentar as temáticas do machismo, da identificação das violências contra mulheres, as rodas serão realizadas na diocese de Lages, haverá uma capacitação das lideranças para aplicar as rodas e o lambe-lambe.

Joyce Lorena que está na Paraíba, junto à CPT (Comissão Pastoral da Terra), da Rede Caminho de Esperança, em Cajazeiras irá trabalhar os ciclos de violência com rodas de conversas para escutar as juventudes da zona rural.  Ela pretende aplicar as rodas de conversa na Universidade, no curso de Química, quer provocar o debate sobre o tema das violências e como enfrentar estes ciclos que estão presentes na vida e cultura das mulheres.A aplicação das rodas está prevista para 2022.

A Luciene Carlinda (BA) INPV que também é parte da Rede Caminho de Esperança, irá realizar em Salvador, numa periferia, na comunidade Bom Pastor, a escuta das juventudes que vivem situações de fome, violências, desemprego, perda de direitos, violências familiares… Está projetado realizar a escuta através das rodas com os temas – A juventude quer viver, Que espaços têm o jovem na comunidade? Em defesa da vida da juventude, além dos temas Projeto de Vida e Escolhemos Amar.

No Maranhão, temos o projeto de Jadkelia e de Laís, que estão propondo uma ação para todo o Estado, ambas são da Pastoral da Juventude e estão acompanhadas pelo IFJ-MA também da Rede Caminho de Esperança. O Projeto está focado em enfrentar as violências contra mulheres, construir masculinidades capazes de refletir e superar modelos patriarcais que geram morte. No Maranhão foram registrados 300 casos de violências contra mulheres por mês e 60 casos de feminicídios somente de janeiro a agosto de 2020. Elas têm o objetivo de dialogar com os jovens dos grupos da Pastoral da Juventude da Igreja Católica, identificar as violências praticadas e também refletir sobre as masculinidades. Assim, pensar novas relações entre companheiros e com isso fortalecer a Campanha da PJ de enfrentamento aos ciclos de violência.

Também no Maranhão, o Centro de Ensino Paulo Freire,  com 4 educadores, está no território Turu (20 bairros da cidade). Somam-se com o trabalho de entidades que trabalham no bairro, inclusive com pesquisas em diálogo com a escuta das realidades de adolescentes e jovens. E foram identificadas várias situações como automutilação, suicídios, exploração sexual, drogas, entre outras. Por isso, o projeto se centrará na valorização da vida, e ao  final os participantes apresentarão os resultados em produções artísticas. O Roteiro foi preparado pelos educadores para atender estas necessidades identificadas. Foram realizadas de novembro a janeiro.

No Piauí, a Marcegiana, em seu projeto, propõe realizar as rodas na cidade de Francisco  Macedo. Serão realizados 4 encontros do livro Pela Vida das Companheiras, para tratar de gênero, tipos de violência, masculinidades e políticas públicas. A Proposta será apresentada para a coordenação da PJ do Piauí, será uma discussão com 20 jovens o projeto já realizou a roda e será executado de março a maio de 2022.

No Paraná, o Centro Juvenil Vocacional, que também faz parte da Rede Caminho de Esperança, contará com Ana Clara e Mariana, o projeto será desenvolvido no Centro e nas Escolas da Periferia de Londrina. O objetivo é primeiro conhecer a realidade dos jovens estudantes, dialogar com os mesmos e propor um caminho sobre as suas relações. Estas ações serão em dois colégios públicos e quem acompanhará será a coordenação. Está organizado para, ao final os participantes  produzirem materiais de comunicação.

No Tocantins, de modo particular, em Araguaína, Mikaelly e um grupo de pessoas que apoiaram e acompanharam a elaboração do projeto tiveram como objetivo enfrentar  os ciclos de violências na cidade, apresentar a campanha, conhecer a lei Maria da Penha, identificar as formas de violência. O projeto foi realizado no grupo de jovens Filhos do Céu, para trabalhar com as lideranças sobre a naturalização das violências, que infelizmente é algo presente em nossa sociedade. Serão trabalhados os temas do roteiro Pelas Vidas da Companheiras e os encontros foram realizados de novembro e dezembro de 2021.

No Acre, Rio Brasil, Naiely apresentou o projeto  buscando ampliar o debate sobre a violência contra mulheres, difundir a campanha de enfrentamento aos ciclos de violência contra mulher, reconhecer as violências contra os corpos das mulheres, entender as bases estruturantes das violências: machismo, feminicídio, patriarcado… A PJ está em 11 comunidades, jovens atrasados no ciclos de educação, bairros periféricos com juventude empobrecida como na baixada do Sol.

O objetivo é capacitar coordenadores para facilitar as rodas, divulgar as ações na rede sociais, envolver os jovens no debate, trazer o tema da violência,  dos abusos dentro da igreja e em outras instituições, e fortalecer a campanha. As rodas foram realizadas em novembro e dezembro de 2021.

Em Minas Gerais, na Diocese de Mariana, a Olívia apresentou o projeto para fortalecer a capacitação da PJ na metodologia das rodas de conversas a serem realizadas com os grupos de jovens .  O objetivo é trabalhar na comunidade Santa Efigênia, para diminuir os índices de violências e mapear espaços que trabalham na defesa da vida das mulheres. As rodas serão realizadas de janeiro a junho de 2022. A capacitação das lideranças será realizada dentro dos princípios sanitários em respeito à vida.

Em Alagoas, na Diocese de Penedo, Simoneide apresentou a proposta de realizar rodas nos grupos de jovens, com a secretaria de Assistência Social e com a Secretaria de saúde da Mulher. Realizar rodas para enfrentar os ciclos de violência no município, realizar o dia D para o combate  à violência. Capacitar lideranças para o trabalho, realização das rodas em janeiro e fevereiro de 2022.

Em Roraima, a Derlane elaborou o projeto com foco nas rodas para dialogar e escutar as juventudes sobre educação e religião, para escutar as mulheres, capacitar lideranças para a escuta de adolescentes e jovens, fortalecer a PJ e a campanha de enfrentamento aos ciclos de violência.

Em Roraima, 12 mulheres são agredidas por dia, dados do Estado em 2020. A pandemia expõe as violências, as desigualdades sociais,  e a fome que precisam ser enfrentados.O objetivo é que as juventudes saibam enfrentar os abusos de toda natureza – sexuais, econômicas, racistas, do patriarcado. Roraima é um estado marcado pela imigração, presença de indígenas de várias etnias originárias deste lugar.  O objetivo é capacitar lideranças para a metodologia das rodas, acompanhar a aplicação, incentivar a colagem do lambe-lambe, para então construir o Bem Viver.

Em São Paulo, Mônica, Geovana e Sylene organizam seus projetos e a ideia é de capacitar lideranças para aplicar as rodas de conversas em São Paulo. Motivar jovens para aderir a campanha da PJ. Serão aplicados roteiros pela Vida das Companheiras. A Sylene que está em Louveira,  tem como objetivo abrir os canais de comunicação entre adolescentes e jovens e o poder público. As rodas de conversas como plano municipal para a escuta em seus territórios. As rodas de conversas serão realizadas em novembro e dezembro de 2021 e ao final, será promovida uma mostra cultural.

No Distrito Federal, no Sol Nascente, uma periferia populosa empobrecida, Ana Rafaela, Gecineia e Marly, membros da congregação das Missionárias de Jesus Crucificado, que também faz parte da Rede Caminho de Esperança,  têm proposta de realizar rodas com mulheres e jovens para colaborar com eles/elas em seus processos de libertação. Trabalhar sobre sonhos, histórias e origens,reconhecer a realidade onde vivem e  identificar as violências sofridas pelas mulheres para superar e construir outros modelos de relações. As rodas serão realizadas em janeiro e programadas para todo o ano, em torno de economia solidária, com os sonhos de fortalecer a luta das mulheres.

No Rio Grande do Sul, Raphael e uma equipe da PJ assumiram no projeto a tarefa de reanimar os grupos de jovens e as coordenações diocesanas, depois dos dois anos de pandemia, também será realizado as rodas em escolas públicas e em instituições sociais para organizar a defesa da vida em tempos de pandemia. As rodas serão realizadas de novembro de 2021 a janeiro de 2022.

No Ceará, Terliane Sara organizou o Projeto Muli – Mulheres Livres – provocar o conhecimento entre as mulheres para enfrentar as culturas que estruturam o patriarcado, machismo, sexualização dos corpos das mulheres, buscando o reconhecimento das mulheres para ser e estar onde quiserem e superarem a cultura da violência doméstica. O Brasil é o quinto lugar do mundo com mais feminicídios. As rodas são realizadas até fevereiro de 2022, por um grupo de casais jovens.

No Pará, Wanessa Freire tem  a tarefa de compreender as relações entre mulheres e homens para trabalhar o enfrentamento dos ciclos de violência, aprofundar sobre as masculinidades e com isso, valorizar a campanha da PJ e trabalhar as rodas de conversas – Pela vida das companheiras.

No Amazonas, Raely tem como tarefa dialogar com os jovens para colaborar na superação das violências, então a proposta é levar esse debate para os grupos de jovens, para as escolas e buscar gestos concretos para que os jovens possam ser multiplicadores da informação. Com o desejo de fortalecer a Campanha da PJ nestes espaços. Irá realizar as rodas nos municípios do interior do Amazonas:  MANACAPURU,  ITACOATIARA e PARINTINS nos meses fevereiro e março. É um desafio, porque no interior do Amazonas, encontramos realidades muito cruéis de tráfico e exploração sexual e diversas outras violências, isso só fomenta a importância de levarmos a campanha aos mais longínquos lugares.

Recebemos vários relatórios sobre a aplicação das rodas.

Esse é um breve relatório, para que possam acompanhar melhor a ação. Assim, poderemos avaliar esta ação e ver se o objetivo, que era aprofundar o tema dos ciclos de violência contra mulheres e jovens, está sendo alcançado.  Compreendemos com este processo que a campanha da PJ está sendo aplicada e vivida em vários espaços, O  nosso sonho maior com esse projeto é Girar o Mundo, contribuindo para a desconstrução de estruturas que naturalizam e normalizam as violências cotidianas. E construir um outro mundo possível para todas as pessoas, sem violência de gênero, sem o machismo que fere e o patriarcado que mata.

Goiânia, 7 de fevereiro de 2022.

Carmem Lucia Teixeira/Cajueiro e Michelle Gonçalves/Pastoral da Juventude.

 

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