Situando o projeto TrilhaUni em 2023
No dia 9 de março, dia que celebramos 10 anos do Centro de Juventude Cajueiro, publicamos em nossas redes sociais a campanha de divulgação do projeto Trilha Uni, em sua 15ª edição. Este é um dos projetos mais significativos do Centro Cajueiro, que já atendeu 772 jovens e, de modo indireto, suas famílias, colegas e várias outras pessoas de seus círculos de convivência.
Nesta fase do Projeto Trilha Uni, várias pessoas participantes do projeto fizeram depoimentos motivando outros jovens a integrarem-se ao projeto, inscrevendo-se para participarem em 2023. Entre os que apresentaram suas histórias, temos jovens, homens e mulheres, que já concluíram os cursos de Ciências Contábeis, Medicina Veterinária, Pedagogia, e o nosso esforço foi conectar nossos jovens dessa edição com quem já viveu essa experiência.
Durante quase trinta dias fizemos uma imensa campanha de divulgação: entrega de panfletos nas escolas; mobilização nas redes sociais e em nossa página; contato com várias pessoas para colaborar na divulgação; solicitações de divulgação nas rádios – Difusora, CBN, Universitária; várias pessoas do Cajueiro visitaram as escolas públicas e esse contato presencial ou por telefone foi um dos cuidados para que a notícia pudesse chegar às juventudes das escolas públicas: mulheres, população LGBTQIAP+ e negras, periféricas de Goiânia e das cidades do entorno de Goiânia – Trindade, Senador Canedo, Aparecida de Goiânia.
No dia 1º de abril, sábado, foi realizado um encontro dedicado aos educadores do Projeto Trilha Uni. O encontro foi o tempo oportuno para conhecer o grupo, criar vínculos entre as pessoas envolvidas, tanto no projeto pedagógico, como também no apoio aos cuidados com a alimentação e transporte para garantir a qualidade do projeto. Também, foram discutidas as Oficinas propostas para tratar de temas que tocam a realidade, aspectos da vida pessoal e afetiva, com o cuidado da formação integral.
Nas entrevistas, contamos com o trabalho cuidadoso de Samuel e Thaysa, Francisco Alves, Rogério dos Prazeres, Edvaldo Gomes, Carmem Lucia Teixeira, pessoas do Cajueiro que estiveram presentes para escutar as juventudes inscritas e, nesse exercício, percebemos as situações cotidianas de adolescentes e jovens, desde o campo pessoal, como as questões estruturais a que estão submetidos – desigualdade social, racismos estruturais, políticas públicas que não estão nas periferias, as violências que são submetidos/as desde a família, escola, trabalho e bairros que não oferecem espaços de participação. Muitos participantes trazem a questão da necessidade da escuta e do respeito ao momento em que vivem e, ainda, falam sobre a falta de pessoas e grupos que ofereçam segurança para poder viver esta fase da vida.
Uma pesquisa publicada no Jornal “O Popular”, no dia 17 de maio, diz que “Uma média de 322,3 mil jovens goianos com idade entre 15 e 29 anos não trabalharam e não estudaram durante 2022, o que corresponde a 18,3% das 1,7 milhão de pessoas na faixa etária citada. Os números tiveram uma queda em relação ao ano de 2021, quando 374,6 mil jovens (21,7%) estavam nessa condição. Conhecidos como “nem-nem”, os jovens que não estudam e não trabalham representam um risco para o bom desenvolvimento do mercado de trabalho e previdência social.” Veja por estes dados como é grave a situação das juventudes em Goiás, e, ainda mais se fizermos um recorte para as juventudes preta, periférica e pobre, que são as vítimas deste sistema, o qual produz essa categoria chamada na pesquisa de nem-nem.
Quem são os jovens do projeto TrilhaUni?
Recebemos 73 inscrições. Fizemos entrevistas com 42 pessoas que estão matriculadas no Projeto Trilha Uni 2023/1, as quais têm o seguinte perfil: o grupo de participantes pertence a quatro cidades, sendo que a maioria pertence à capital Goiânia (29 alunos), Aparecida de Goiânia (07 alunos), Trindade (01 aluno) e Senador Canedo (05 alunos).
Os participantes têm faixa etária muito diversificada:
Quantidade | Idade |
19 participantes | 17 anos |
10 participantes | 18 anos |
02 participantes | 19 anos |
02 participantes | 20 anos |
02 participantes | 23 anos |
02 participantes | 27 anos |
01 participantes | 30 anos |
01 participantes | 31 anos |
02 participantes | mais de 31 (55 anos e 64 anos) |
Mesmo com tal diversidade, a maioria dos participantes tem entre 17 e 18 anos (29 pessoas). Outro destaque diz respeito ao fato de termos, nessa turma, duas pessoas adultas que voltaram à sala de aula e desejam continuar seus estudos.
Ocupação laboral e orientação vocacional
Quando foram perguntados sobre o trabalho, a maioria nunca trabalhou: 18 alunos. Há um grupo que trabalha: 12 alunos, e outro que já trabalhou: 12 alunos. O grupo que tem experiência com trabalho é o maior, somando 24 pessoas. No campo da orientação vocacional para a formação, indicaram – Administração: 02 alunos; Biologia: 03 alunos; Biomedicina: 01 aluno; Direito: 04; Psicologia: 05 alunos; Designer: 02 alunos; Enfermagem: 01 aluno; Educação Física: 03 alunos; Engenharias: 06 alunos; Gastronomia: 01 aluno; Medicina: 06 alunos; Medicina Veterinária: 04 alunos; Nutrição: 01 aluno; Pedagogia: 02 alunos; Publicidade e Marketing: 01 aluno; Serviço Social: 02 alunos; Zootecnia: 01 aluno; alunos que ainda não definiram: 01.
Orientação sexual, etnia e religião
No tema da orientação sexual – Heterossexual: 26 alunos, Homoafetivo: 03 alunos, Bissexual: 09 alunos, Pansexual: 01 aluno, Não informou: 03 alunos. Também indicaram no quesito raça/etnia: brancos 9 participantes, pretos 16 participantes e 17 pardos. A maioria das pessoas participantes são negras. Ao todo, 33 pessoas foram atendidas como prioridade do projeto. O grupo de mulheres no projeto é de 34 mulheres, sendo a maioria do grupo.
No campo da religião: não têm religião: 17 alunos, Cristã Evangélica: 12 alunos, Matriz Africana: 08 alunos, Cristã Católica: 04 alunos, Cristã Anglicana: 01 aluno. Nesta turma, a maioria dos jovens indicaram a categoria sem religião, e o número de jovens de matriz africana tem uma presença significativa e, também, está em maior número em relação às edições anteriores. Constatamos, em acordo com o que acontece com o cenário nacional brasileiro, que o número de jovens sem religião cresce em todo o nosso território.
Na BBC News Brasil, “No Censo de 2010, por exemplo, dos 15,3 milhões de brasileiros que se diziam sem religião, apenas 615 mil (4% dos sem religião) se consideram ateus e 124 mil se afirmavam agnósticos (0,8%).” E ainda afirma “A maior parcela dos sem religião tem a ver com uma desinstitucionalização, o que quer dizer que o sujeito está afastado das instituições religiosas, mas ele pode ter uma visão de mundo e até mesmo práticas pessoais informadas por crenças religiosas”, explica Silvia Fernandes, cientista social e professora da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).”
Saúde e participação social
Quando perguntados sobre a questão da saúde ou deficiências, 10 participantes indicaram algum problema de saúde, desde alergia até deficiências mais comprometedoras, as que exigem cuidados.
Quando perguntados sobre a participação em algum grupo social, as respostas foram: Participa de algum grupo/Organização social: 13 alunos, não participam de nenhum grupo/Organização social: 29 alunos. Os dados indicam que a maioria não participa de grupos. Tendo presente os dados sobre estes jovens e a condição social, podemos afirmar, de acordo com as edições anteriores, que a oferta de grupos para este público está em baixa, uma vez que nesta faixa etária há uma busca de grupos e a formação de vínculos. A saída das Igrejas, onde concentram os grupos de participação dos adolescentes e jovens, também pode explicar a não participação, além da descrença nas instituições. O que aparece no diálogo com estes jovens são os coletivos identitários
Para que buscam o Projeto e como foram informados do TrilhaUni?
Quando perguntados sobre o que buscam no Projeto TrilhaUni, as respostas foram: ser aprovado no ENEM: 30 participantes, fortalecer vínculos sociais: 03 participantes, ter uma vida melhor: 04 alunos, complemento ao conhecimento da escola: 05 alunos. O foco na Prova do ENEM é o desejo da maioria, porém é interessante que a busca de vínculos e vida melhor também apareçam como interesse.
Uma das questões pergunta como a pessoa tomou conhecimento do TrilhaUni e obtivemos as seguintes respostas: – Redes Sociais: 04 alunos, divulgação na Escola: 12 alunos, amigos/Família/Comunidade: 25 alunos, aluno da edição anterior: 01 aluno. Neste item é interessante observar que o contato corpo a corpo é o que mais move as juventudes a se engajarem no projeto. Tanto pelos amigos/familiares e pela visita nas escolas.
Um outro dado importante dessa turma é que a maioria já realizou a prova do ENEM, sendo 24 alunos nessa situação e 18 que nunca fizeram a prova do ENEM, o que nos desafia a um projeto que possa contribuir com esse aspecto da formação das juventudes, mas também avançar em outras dimensões. Goiânia, 19 de maio de 2023
Elaboração do texto: Dados elaborados por Edvaldo Gomes; construção do texto Carmem Lúcia Teixeira e Miriam Fábia Alves; revisão linguística de Patrícia da Rosa Teixeira dos Santos.
- Veja mais em https://opopular.com.br/cidades/mais-de-320-mil-jovens-em-goias-n-o-estudaram-nem-trabalharam-em-2022-1.3029349 – os dados são do Instituto Mauro Borges.
- Veja mais em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61329257