Carta aberta às entidades e representantes do poder público municipal e estadual da cidade de Goiânia, Goiás
Estimadas senhoras e senhores,
No oitavo dia de maio, às 18h30, no Centro de Juventude – Cajueiro, 66 pessoas, representando suas instituições e a sociedade civil, reuniram-se para discutir a periferia, o encarceramento de adolescentes e refletir sobre a pergunta: “É crime ser preto?”. Segundo o Atlas da Violência (2020), mais de 60% da população de jovens encarcerados é negra, isto significa que para cada 3 presos no sistema, 2 são negros. No encontro, os presentes foram desafiados a colocar em palavras algumas propostas de como frear este cenário. Com as respostas, redigimos a seguinte carta, endereçada a vocês pré-candidatos e pré-candidatas, políticos já eleitos e/ou que planejam se reeleger, buscando uma resposta para as seguintes problemáticas:
Romper com o círculo vicioso da Violência Policial:
Criação de espaços democráticos e inclusivos para discutir a violência policial que atinge jovens pretos e periféricos. Visando não somente as denúncias, mas também encontrar soluções eficazes e duradouras.
Enfrentar as práticas de Injúria Racial:
Confrontar duramente a injúria racial equiparando-a ao crime de racismo. Sendo uma medida crucial para combater o racismo estrutural e tratar atos de discriminação com a devida seriedade.
Enfrentar o fascismo:
Investigar o totalitarismo no Estado de Goiás, que perpetua repressão e violência contra comunidades marginalizadas. Fazendo romper as barreiras do preconceito e exigir o direito dos jovens serem quem são.
Centros de Referência e Pontos de Cultura:
Criação de Centros de Referência e Pontos de Cultura em bairros periféricos, com foco na reinserção escolar e ações sociais contínuas, financiadas com recursos públicos.
Apoio constante a projetos culturais e artísticos nas periferias.
Valorização dos artistas periféricos e manutenção de grupos artísticos.
Enfrentamento da Violência Policial:
Instalação de câmeras nos uniformes dos Guardas Civis Municipais para reduzir a violência e aumentar a transparência.
Apoiar a memória das vítimas da violência do Estado e reconhecer essas histórias.
Desmilitarização da polícia e implementação de leis antirracistas na educação desde a infância.
Representatividade e Políticas Inclusivas:
Importância da representatividade nos espaços de discussão para assegurar políticas inclusivas em emprego, moradia, renda, educação e justiça.
Expansão dos projetos populares nas periferias invisibilizadas.
Participação dos Jovens:
Inclusão ativa dos jovens nos comitês de direitos das crianças e adolescentes.
Desenvolvimento de projetos que promovam políticas públicas inclusivas, programas culturais e esportivos.
Preparação especial para policiais, idealmente ministrada pelos próprios jovens, para humanizar o tratamento.
Papel das Secretarias e Conselho Tutelar:
As Secretarias de Educação, Assistência Social, Saúde e o Conselho Tutelar devem amplificar as vozes dos jovens em situação de vulnerabilidade.
Trabalho além dos muros das escolas públicas, apresentando novas perspectivas de futuro e utilizando as eletivas do novo ensino médio para auxiliar os jovens a conhecer e exigir seus direitos.
Chamado à Ação:
É crucial que o poder público reconheça e respeite a existência dos jovens periféricos, oferecendo projetos sociais, áreas de lazer, postos de saúde e educação de qualidade. O principal desafio é a desigualdade social, uma realidade dolorosa que só pode ser compreendida plenamente por aqueles que a vivenciam. Relatos de violência policial, discriminação racial e homofobia mostram a urgência de uma resposta efetiva e compassiva.
Que esta carta sirva como um chamado à ação para todos que desejam uma cidade e um Estado mais justo, inclusivo e democrático.
Atenciosamente,
Centro de Formação, Assessoria e Pesquisa em Juventude – Cajueiro e Instituto Brasil Central (Ibrace).
ASSINAM:
Centro Universitário de Mineiros – Câmpus Trindade;
Coletivo de Mulheres – Região Noroeste;
Comissão Pastoral da Terra – Goiás;
Faculdade de Ciências Sociais – Universidade Federal de Goiás (FCS/UFG)
Igreja Batista – Jardim Novo Mundo;
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFG Câmpus Goiânia Oeste
Malunga – Grupo de Mulheres Negras;
Movimento de Meninos e Meninas de Rua de Goiás (MMMR-GO);
Movimento Nacional de Direitos Humanos em Goiás (MNDH)
Núcleo de Direitos Humanos – Educação e Movimentos Sociais (NUDHEM)
Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência – Universidade Federal de Goiás (NECRIVI/UFG);
Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Extensão em Direitos Humanos – Universidade Federal de Goiás (NDH/UFG);
Observatório de Juventudes na Contemporaneidade;
Programa de Direitos Humanos – PUC Goiás;
Terreiro de Umbanda – Folha do Abacateiro;