Cajueiro realiza Roda de Conversa com mulheres do Movimento Sem Terra

Imagem do WhatsApp de 2025-06-28 à(s) 10.59.46_eedcd5ee

A cultura patriarcal está presente em nossa sociedade sob diversos matizes. Podemos dizer que, na experiência camponesa, ela se apresenta com alguns vieses diferentes. Há um esforço, dentro dos movimentos sociais e comunitários — como o Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Sem Terra —, de escuta das dores que marcam nossos corpos de mulheres e homens. Essa escuta é fundamental para a construção de vínculos cada vez mais saudáveis.

A roda de conversa teve como ponto de partida a HQ Marcas (In)visíveis – História da Mãe da Érika, organizada pelo Cajueiro em parceria com outros grupos e pessoas que contribuíram para a construção do material. Há cerca de 15 dias, as mulheres receberam a revista em quadrinhos, fruto do trabalho realizado por Marta, Cidinha e Adriana. No sábado, dia 28, retornamos para continuar a conversa sobre a temática dos abusos e violações que carregamos em nossos corpos — sobretudo as mulheres. Estiveram presentes cerca de 50 pessoas, sendo mais de 40 mulheres, além de um grupo de 10 homens e crianças.

As mulheres e os homens do acampamento prepararam uma mística que nos fez refletir sobre a violência praticada sob o véu do amor romântico, que pode culminar no feminicídio. Foi um momento muito forte, que atravessou toda a roda. O acampamento leva o nome de Dona Neura, uma mulher negra vítima de feminicídio. Trazer à memória todas as mulheres vítimas e os dados da realidade também colaborou para ampliar nossa consciência na luta por proteção integral.

Cidinha, do Cajueiro e da Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho, e Adriana, assistente social vinculada às Irmãs Franciscanas dos Pobres, relembraram a HQ e destacaram as reflexões das mulheres sobre a leitura. Diversos tipos de violência estão presentes: no ambiente de trabalho, nas relações familiares, nas escolas e, também, no próprio caminho do movimento de ocupação da terra. Em seguida, Carmem Lúcia, do Cajueiro, provocou o grupo a buscar as origens dessas violências presentes em nossos corpos — desde as relações amorosas marcadas pelo patriarcado e pela misoginia. Nesse ambiente se constroem o medo, o controle, as relações hierárquicas e patrimoniais que imobilizam mulheres e homens, submetendo-os a esse modelo cultural cujas consequências recaem, majoritariamente, sobre as mulheres.

Marta, do Cajueiro/CPT Regional Goiás/Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho, coordenou a atividade e, ao final, pediu que as pessoas avaliassem a manhã e as conversas. Entre os retornos, ouviu-se: “Falar sobre a agressão se torna um aprendizado e um alerta entre as mulheres. Depois de falar, a gente sente que pode caminhar de cabeça erguida, não abandonar as companheiras e compreender as dificuldades de mudar e sair da situação”. O grupo também combinou que esses encontros abrem horizontes para toda a vida.

Texto: Carmem Lúcia Teixeira

Facebook