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Um debate, muitas histórias de enfrentamento ao racismo

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O sexto Café com Direitos Humanos ocorreu dia 18 de outubro de 2023. O tema era  “Na relação humana: Qual é sua posição diante uma situação de racismo?” e, na ocasião, o grupo se reuniu para discutir meios de lutar contra o racismo que acerca o dia a dia de tantas pessoas, além de ouvir vozes que foram constantemente caladas por nossa sociedade.

Lucinete Oliveira, ativista da pastoral negra, professora e feminista, foi nossa palestrante. Ela trouxe um canto da tradição africana, em que todos participam, seja cantando, dançando ou tocando instrumentos. Nesse canto todos tiveram espaço para se apresentar e entrar em contato com um pouco da cultura africana que existe no nosso país.

Assim, começamos a falar sobre o apagamento histórico da importância da África na história do mundo, algo que é feito para silenciar muitas vozes. Um dos extensos exemplos desse apagamento é que muitos não sabem que o Egito fica na África, ou que muitos estudos indicam que a raça humana teve início lá. Com isso, puxamos outro canto sobre nossa ancestralidade africana, e cada um compartilhou qual seria sua conexão. Desse modo, a finalidade era compreender essa importância cada vez mais para nossa sociedade.

Após o canto, Lucinethe Pereira, associada ao Centro de Juventude Cajueiro, Liderança comunitária da Pastoral da Juventude,  compartilhou sua vivência como uma mulher preta e periférica: ela cresceu numa casa com 8 mulheres pretas, suas irmãs, e seus pais eram trabalhadores rurais. Lucinethe cresceu acreditando que ser preta era algo ruim, por ser invisível aos olhos de seus colegas brancos, ser ignorada em propostas de emprego por sua cor e seu cabelo. Isso foi um processo doloroso, pois o racismo é constante na vida dela e ter orgulho de ser preta é uma constante luta, a sociedade é cruel. Hoje ela é servidora pública e o racismo continua, além de humilhada, ela foi sexualizada em diversas situações, a cor de sua pele era algo mencionado nessas situações, o que tornava tudo pior, as histórias cruéis infelizmente são infinitas. Mas falar disso é importante, pois ela mostra como é o mundo e ela encontra em pessoas pretas companheirismo, acolhimento e escuta.

Outra convidada foi Eldenice Mota, da coordenação do Curso de Verão e das Cebs de Goiânia. Ela é líder da sua comunidade periférica de Aparecida de Goiânia e também compartilhou sua cortante vivência como uma mulher preta. Eldenice é mineira, a família dela era das folias de reis, teve que se casar nova, pois era essa a realidade da mulher preta na época. Foi apenas quando seu  pai se revoltou contra o patrão que ela e a família se mudaram para Goiás. Aqui Eldenice começou a estudar, foi por meio das cotas que ela conseguiu cursar pedagogia, o que abriu muitas portas em sua vida, mas, assim como Lucinethe, foi um caminho cheio de lutas. Além disso, ela compartilhou um caso de racismo onde ela foi ridicularizada na frente de sua família em uma festa, era para ser um momento de felicidade e foi destruído por isso. Entretanto, essa foi uma das vezes em que ela escolheu bem sua luta, para evitar situações violentas, mas não aceitou se calar mesmo assim. Isso mostra como essa luta não deve ser algo individual, todos, principalmente os brancos, devem agir para acabar com esses casos, o racismo é responsabilidade da branquitude.

Com esses relatos, a fala foi aberta para todos. Assim, um dos participantes, que é branco, resolveu falar de sua jornada se percebendo racista e mudando isso, porém isso não agradou outros participantes, pois o encontro não tinha esse intuito, principalmente após os relatos cortantes das convidadas. Isso iniciou uma discussão, com as pessoas pretas destacando que não era o momento, nos reunimos para falar de métodos e tecnologias para lutar contra o racismo, esse é o momento de ouvir as pessoas pretas falando. Com isso, o grupo se voltou para discutir a questão. E então finalizamos mais um encontro, dessa vez com um canto africano, reforçando a responsabilidade de não apenas lutar contra as injustiças do racismo, mas de relembrar aquilo que a história apagou das pessoas pretas.

Felipe Carvalho – Jornalista

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