No último sábado, 14/6, diversas pessoas do Cajueiro estiveram presentes na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), representando o Projeto TrilhaUni na sessão solene promovida pelo deputado estadual Mauro Rubem, em homenagem aos educadores populares no estado.
O projeto nasceu a partir de um contexto socioeconômico em que a juventude empobrecida — ou seja, de grupos minorizados, periféricos, trabalhadores, negros, LGBTQIAP+, mulheres, migrantes, indígenas — é excluída do acesso ao ensino superior.
O Censo Demográfico de 2022 revelou que apenas 18,4% da população brasileira com 25 anos ou mais concluiu o ensino superior, segundo o IBGE. Embora tenha havido um aumento significativo em relação aos censos anteriores (6,8% em 2000 e 11,3% em 2010), a maioria da população ainda não possui ensino superior.¹
Esses dados revelam o quanto o ensino superior ainda é acessível apenas a grupos privilegiados e como, ao longo da história da educação no país, foram priorizadas pessoas brancas ou aquelas com maior acúmulo de recursos financeiros, o que fortalece a desigualdade. O aumento percentual pode parecer expressivo, mas escancara que grande parte da população ainda não tem acesso à universidade.
O projeto TrilhaUni, assim como outros cursinhos populares, busca, a partir da educação popular, alcançar as juventudes do Estado de Goiás, apoiando seu processo educacional para que possam acessar essa política pública. O projeto contrapõe-se ao modelo educacional que visa apenas cumprir metas internacionais, impõe modelos de controle sobre corpos e mentes com uma educação militarizada, impede a organização dos sujeitos e promove reformas que reduzem a carga horária de disciplinas que estimulam o pensamento crítico, como História, Filosofia, Geografia e Artes.
O reconhecimento desse trabalho, feito por associações como o Centro de Juventude e por programas de extensão da Universidade Federal, tem marcado a experiência em Goiás ao oferecer oportunidades a jovens periféricos de escolas públicas. Durante a homenagem que reconheceu esse esforço, vários participantes destacaram que a existência e a necessidade de cursos preparatórios para o Enem ou vestibular revelam o fracasso do sistema educacional brasileiro. Defender uma educação de qualidade, universal e gratuita para toda a população é essencial para superarmos os dados que escancaram essa realidade.
O deputado Mauro Rubem pontuou sobre a importância das políticas públicas e da necessidade de lutar por esse direito para os jovens minorizados — os mesmos que mantêm a estrutura de uma sociedade desigual, racista, misógina e adultocêntrica. Ele reconheceu que a ação desses grupos em favor da educação superior contribui para a efetivação dos direitos constitucionais.
O Cajueiro foi representado na homenagem por várias pessoas: jovens aprovados no ensino superior, tanto em universidades públicas quanto privadas; educadores das disciplinas; responsáveis pela preparação de alimentos e pelas doações; integrantes da coordenação do projeto e da diretoria do Cajueiro; além de familiares dos beneficiados.
Estamos na 17ª turma, realizada desde 2013. O projeto já alcançou mais de mil pessoas, sendo que quase 200 ingressaram na universidade; outras conquistaram postos de trabalho. Essa trajetória contou com a colaboração de voluntários, do grupo Promenor, do grupo La Abuela (ambos da Espanha), da Adveniat (Alemanha), de emendas parlamentares dos deputados Karlos Cabral e Mauro Rubem, além de doações pessoais.
O projeto TrilhaUni acontece a partir de um princípio fundamental do Cajueiro: a rede. Por isso, somos capazes, juntos e juntas, de apontar caminhos e sonhar com uma sociedade mais justa, com princípios democráticos e com a proteção de adolescentes e jovens.
Texto: Carmem Lucia Teixeira | Fotos: Sérgio Rocha